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Long Story Short

Long Story Short

31
Mar24

O meu coelhinho da Páscoa

Marta Leal

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Há 30 anos a Alfredo da Costa estava lotada e fui recambiada para S. Francisco Xavier. Não sabíamos onde ficava e o pai da criança pagou a um taxista para nos mostrar o caminho enquanto o seguíamos. O Luís nasceu durante a noite, sem epidural, e com o cordão umbilical à volta do pescoço. Estávamos a caminho das 42 semanas. O rapaz revelou-se calmo e sereno até para nascer.

Vi o meu filho por dois minutos e desci para o quarto na maca e ele no berço.  Dormimos os dois. A madrinha e o pai chegaram pouco tempo depois. A madrinha olhou para ele e disse qualquer coisa como “os bebés quando nascem são feios”. Virei-me, olhei para o berço e disse “esse não é o meu filho”. A madrinha olha para a pulseira no braço da criança e diz “pois não”. Foi a confusão geral. O pai e a madrinha saem disparados e eu fico ali com uma sensação de impotência e um pânico inexplicável. O meu filho é-me entregue minutos depois acompanhado com um sem número de desculpas e eu olhei para ele e reconheci-o logo. Posso-vos contar que o achei muito mais bonito do que o outro. Esta ligação mãe é filho é mesmo inexplicável, não é verdade?

E foi assim que nesse ano o “coelhinho da Páscoa” veio em forma de gente. O filho mais velho faz hoje 30 anos e não me podia deixar mais orgulhosa do ser humano que se tornou.

Long story short, se fosse nos dias de hoje andaríamos às voltas sem saber qual maternidade nos ia aceitar, não precisávamos de taxista porque usaríamos o GPS, a madrinha seria posta a andar porque não tinha sido politicamente correta, seriamos aconselhados a pedir uma indemnização ao hospital, quando saíssemos teríamos a CMTV à nossa espera para nos entrevistar e durante um mês andaríamos a percorrer os programas da tarde para falar do tema.

29
Mar24

Envelhecer

Marta Leal

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Envelhecer traz coisas boas e coisas menos boas. Não desistam já de ler porque não vou descrever um chorrilho de queixas e inconvenientes sobre envelhecer. Não o faço porque tomei consciência, há muito pouco tempo, que de facto estou a envelhecer bem e quero com isto dizer que me sinto bem na idade que tenho, na vida que tenho e dificilmente, caso fosse possível, voltaria atrás. Voltar atrás com o conhecimento de hoje ia significar viver outras coisas de forma diferente, mas também perder muito do que me trouxe aqui.

Com o tempo torna-se tudo muito relativo. A calma e a serenidade instalam-se porque já aprendemos que as coisas se resolvem, as pessoas vão e vêm, deixamos de fazer fretes, percebemos que viver em função do que os outros pensam não faz qualquer sentido, vestimos aquilo que nos apetece, o que era importante deixa de o ser e passamos a gostar mais de estar connosco. A ânsia e a sofreguidão dão lugar à paciência e ao saborear do que a vida nos traz. E este estado é mágico. Um simples corte de cabelo que aos 30 nos deprimia porque não tinha ficado como queríamos, aos 50 transforma-se num corte que não correu bem, mas que sabemos irá crescer. Uma nódoa na camisa antes de uma palestra ou de uma reunião transforma-se rapidamente numa piada.

De repente, olhamos para o lado e os filhos cresceram, alguns sonhos ficaram por realizar, mas ainda temos muitos para concretizar, as rugas instalam-se, o corpo começa a dar sinal de desgaste, mas a mente mantém-se ativa e com muito para conquistar.

Long story short, já começo a ser a mais velha dos grupos onde estou, as pessoas tratam-me por senhora, alguns dos meus médicos quase têm idade para serem meus filhos e já faço só o que me apetece.  

24
Mar24

Obrigada

Marta Leal

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Podia-vos dizer que os últimos dias foram uma loucura, que não tive mãos a medir e que procuro não abdicar dos meus tempos livres. E não vos estaria a mentir. Também poderia deixar esquecer, mas prefiro não o fazer. A verdade é que passaram, exatamente, vinte dias do meu aniversário e até agora não tinha encontrado a paz de espírito para vos agradecer. Penso, cada vez mais, que tudo deve ser feito com foco e serenidade e os agradecimentos não serão exceção. Por isso, só hoje, vos agradeço, de coração cheio, todas as palavras, sorrisos, e abraços que fizeram desse dia um dia tão especial. Encheram-me o tanque da felicidade, do amor e da energia.

 

E ainda bem que assim foi porque dois dias depois tinha uma cirurgia ambulatória surpresa que quero acreditar ainda fará parte dos resquícios dos meus 54. Nunca tive medo de resultados de exames, de idas ao médico ou de diagnósticos. Agora, há sempre um frio no estômago, uma incerteza que derrubou todas as certezas de que está sempre tudo bem. E, na maioria dos casos, está, mas existe a experiência anterior que nos sussurra que poderá não estar. E, desta vez, não estava. Sei que passaram apenas vinte dias, mas tenho a sensação de que passaram alguns meses tal foi a sucessão de acontecimentos.

 

Mesmo que, por vezes, me sinta num labirinto, acredito que o equilíbrio está na gestão de uma vivência sem medo perante algo que nos assusta. Recuso-me a viver no medo, mas também me recuso a viver na ilusão. Prefiro a verdade, por mais dura que ela seja, mas isso será assunto para outro dia.

 

Long story short , ganhei uma cicatriz na testa de fazer concorrência ao Harry Potter, só agora é que me sinto com força para andar à cabeçada e estou na iminência de fazer uma franjinha para me proteger do sol!

 

 

04
Mar24

55

Marta Leal

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Os 54 não foram os melhores da minha vida, mas sendo eu uma pessoa positiva retirei do mau o melhor. Descobri que tinha cancro e foi muito no início, não era dos piores e tem sido mais fácil lidar com o assunto. O sistema público estava lento e tive a possibilidade de me tratar no privado. O pai teve um enfarte dois dias depois da minha cirurgia, mas sobreviveu e apesar de todas as limitações continua por cá. Fui rodeada de amor e apesar de não conseguir estar presente, como acho que devia, sou uma felizarda por ter tanta gente á minha volta que me mima, que me apoia e que se preocupa.

Acredito que o nosso ano inicia no dia de aniversário. Uma crença como tantas outras que fazem de mim quem sou. Hoje faço 55 anos e nunca um aniversário me foi tão significativo.  Talvez porque nunca tinha pensado na volatilidade da vida. Talvez porque nunca tinha pensado na importância de honrarmos a vida.

Longe vai o tempo em que não gostava de fazer anos. Talvez porque não percebia que o envelhecimento nada mais é que o acumular de experiências, de vivências e de aprendizagens.

Aos 55 sei que é um dia de cada vez. Não de uma forma derrotista, mas como alguém que saboreia a vida e o momento. Nem sempre é fácil quando se vive em tempos onde a agitação é uma constante, mas é um processo que me leva a uma paz e serenidade que pretendo ter diariamente.

Em dia de aniversário não podia deixar de vos agradecer pela presença, o carinho e por estarem aí.

Obrigada!

Long story short o esqueleto já range, as rugas já se instalaram, já penso 20 vezes antes de aceitar fazer uma noitada, mas a mente continua lá, no ideal de fazer a diferença no mundo ... um dia de cada vez com muitos sorrisos!

 

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