A sala de espera
Desde o dia 4 de dezembro que, em dias úteis, tenho a mesma rotina. Na maioria das manhãs vou a casa dos pais para ajudar a mãe na dinâmica com o pai. E à tarde vou à Clínica, na Amadora, fazer ao tratamento de radioterapia, que termina já esta semana. Demoro cerca de 3 horas entre idas e vindas e achei que seria um processo penoso, mas não está a ser.
Nunca pensei escrever isto, mas vou sentir saudades dos momentos na sala de espera. Dos resmungos da Dona C. enquanto aguarda que os bombeiros a venham buscar, dos protestos da Dona. A. sempre muito apressada e ciosa do cumprimento dos horários, das gargalhadas do Senhor J. perante os protestos da Dona M. que nos seus 84 anos nos coloca a todos a um canto e que tem sempre tanto para nos contar. Do marido da Dona M. que vai sorrindo e acrescentando pedaços às histórias que ela nos conta. Dos sorrisos velados de quem acabou de chegar e ainda não sabe o que o espera e das partilhas de quem se vai sentido mais à vontade.
As despedidas de quem termina são um misto de felicidade e de saudade antecipada de uma partilha natural entre quem a vida surpreendeu, mas que se recusa a baixar os braços. Quem diria que seria tão feliz numa sala de espera!
Long story short, há dias a mulher do Senhor J. confessou-me que o marido estava mais otimista depois de nos ter encontrado a todos e eu fiquei de lagrimita no olho porque sem saberem aquelas pessoas me acrescentaram tanto.