Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Long Story Short

Long Story Short

30
Jan25

A primeira sala de espera

Marta Leal

chairs-2093368_1280.jpg

 

Inspiro-me nos que me rodeiam, nas conversas que tenho ou a que assisto, nos desabafos feitos ou nos silêncios, naquilo que observo, vivencio e reflito. Inspiro-me, também, nas pessoas com que me cruzo, com quem trabalho e nos que me escrevem em jeito de desabafo e me abrem o coração sem que os conheça.

Vou registando e anotando histórias, as minhas e as dos outros. Escrevinhando aqui e ali. Tenho um sem número de cadernos e outras tantas pastas espalhadas pela cloud. Hoje, lembrei-me de vos falar dela. Não sei o nome, nem tão pouco onde mora, o que faz ou quem é. Quis a vida que em determinado momento estivéssemos na mesma sala. Para ser exata o melhor é escrever que quis a vida que em determinado momento estivéssemos na mesma situação.

Lembro-me de pensar que a sala cheirava a angústia,os olhares eram de medo e o silêncio era apenas quebrado quando alguém chamava mais um nome. Eu pouco habituada a estas andanças, fiz o que sempre faço. Entrei acompanhada do meu livro e refugiei-me no silêncio das letras. É aí que me refugio sempre que tenho algum problema.

Ela vinha acompanhada por quem imaginei ser o marido. Ele tentava acalmá-la, mas ela chorava por antecipação. Os nossos olhares cruzaram-se e sorri-lhe.  Conversámos e tentei acalmá-la. Ela entrou antes de mim e saiu com um sorriso de orelha a orelha, deu um suspiro bem fundo e disse-me “não é nada, não tenho nada!”. Sorri-lhe de volta e disse “Que bom!”. Foi aí que o semblante mudou, pediu desculpa por estar feliz. Como é que posso estar feliz se está aqui tanta mulher que ainda não sabe os resultados? Pode e deve, respondi-lhe eu! Não nos podemos sentir culpados porque estamos bem. Vá festejar e aproveite! E lá foram eles, felizes e aliviados.

Long Story Short, quanto a mim, recebi notícias bem diferentes e aquela foi a minha primeira sala de espera de um caminho que tinha de percorrer.

 

 

03
Jan24

A sala de espera

Marta Leal

medical-5478792_1280.jpg

Desde o dia 4 de dezembro que, em dias úteis, tenho a mesma rotina. Na maioria das manhãs vou a casa dos pais para ajudar a mãe na dinâmica com o pai. E à tarde vou à Clínica, na Amadora, fazer ao tratamento de radioterapia, que termina já esta semana. Demoro cerca de 3 horas entre idas e vindas e achei que seria um processo penoso, mas não está a ser.

 

Nunca pensei escrever isto, mas vou sentir saudades dos momentos na sala de espera. Dos resmungos da Dona C. enquanto aguarda que os bombeiros a venham buscar, dos protestos da Dona. A. sempre muito apressada e ciosa do cumprimento dos horários, das gargalhadas do Senhor J. perante os protestos da Dona M. que nos seus 84 anos nos coloca a todos a um canto e que tem sempre tanto para nos contar.  Do marido da Dona M. que vai sorrindo e acrescentando pedaços às histórias que ela nos conta. Dos sorrisos velados de quem acabou de chegar e ainda não sabe o que o espera e das partilhas de quem se vai sentido mais à vontade.

 

As despedidas de quem termina são um misto de felicidade e de saudade antecipada de uma partilha natural entre quem a vida surpreendeu, mas que se recusa a baixar os braços. Quem diria que seria tão feliz numa sala de espera!

 

Long story short, há dias a mulher do Senhor J. confessou-me que o marido estava mais otimista depois de nos ter encontrado a todos e eu fiquei de lagrimita no olho porque sem saberem aquelas pessoas me acrescentaram tanto.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub